Com o título "Temporão perde força no Planalto", o jornal o Estado de São Paulo anunciou na edição de hoje a fritura política do Ministro da Saúde José Gomes Temporão. Até nomes para substituí-lo, como o do prefeito de BH, Fernando Pimentel, e do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (que é médico) já foram lembrados. Lideranças do PMDB teriam dito a Temporão que "ou ele se enquadrava ou não sobreviveria após às eleições".
Como é se enquadrar? - perguntaria qualquer um de nós, que pouco ou nada sabemos das tramas da política. Mas sabemos que o ministro da Saúde não é um político. É ele um médico sanitarista reconhecido. Suas bandeiras até agora são polêmicas, mas, na minha opinião, todas corretas: restrição das propagandas de bebidas alcoólicas e de comidas com alto teor de gordura, de sal ou de açúcar; aumento do percentual do imposto para os cigarros; reconhecimento do aborto como uma questão de saúde pública. Inicia-se agora vacinação contra rubéola em nível nacional de mais de 70 milhões de pessoas. Alguém pode ser contra prevenir a síndrome da rubéola congênita que ainda acomete bebês brasileiros?
Errou Temporão na prevenção da epidemia de dengue de 2008. O que ocorrerá em 2009?
Mas o grande erro de Temporão foi imaginar que a solução para as suas dificuldades seria se comportar como se fosse um político, especialmente quando corre atrás da ressuscitação da CPMF. Ninguém quer um novo imposto. A super exposição do ministro na mídia o desgastou. Seus grandes e polêmicos projetos não emplacaram. A Contribuição Social da Saúde (CSS), que corre o risco de não ser aprovada, tem sido uma bandeira política publicamente assumida por Temporão, que por esta razão tem sido freqüentemente fotografado ao lado de políticos experientes, para os quais a exposição na mídia é indispensável.
E agora vem a notícia de que o ministro da Saúde está sendo politicamente fritado, não por questões técnicas ligadas à sua pasta, mas por razões políticas.
As grandes e históricas feridas da saúde pública no Brasil continuam expostas no dia-a-dia de toda a população. O caminho da prevenção bem sinalizado pelo ministro é o caminho certo, mas não é o suficiente.
Equivocadamente José Gomes Temporão, médico e ministro, pensou que tinha apoio do governo e sustentação política. Não está tendo nem um, nem outro.
É uma lástima que a saúde não seja uma prioridade no governo Lula. É por esta razão que os políticos aliados do governo e que agora reclamam, nada têm a mostrar na área da saúde aos seus eleitores nas próximas eleições municipais e tampouco apresentar resultados exemplares para as eleições de 2010 que permitam comparação com a gestão de Serra, no governo Fernando Henrique.
Mas será que a solução para a saúde é trocar um ministro que não é apoiado por conhecidos e experientes políticos?
De toda forma é lamentável que o ministro Temporão demonstre pouca cautela, como deveria ter um profissional vindo da Fiocruz, diante da mídia, ao anunciar ontem, 03/06, alguns bons resultados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde em relação à desnutrição infantil no país. Segundo O Globo de hoje, o ministro exaltou as ações da sua Pasta e voltou a defender a CPMF. A pesquisa em questão, feita pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e financiada pelo Ministério da Saúde analisou um período de 10 anos (de 1996 a 2006). Os avanços obtidos devem obviamente ser creditados às ações governamentais desenvolvidas nesse período (e talvez até de antes de 1996). Tentar capitalizar para a sua gestão todo o mérito dos resultados e exagerar na importância dos dados obtidos é uma tática que se mostrará inconsistente em pouco tempo. Ou será que os resultados de uma pesquisa aplacarão as insatisfações dos políticos com a atuação do Ministério da Saúde?
Não dá para ficar calado.