sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Pesquisa com adolescentes homicidas

A Folha de São Paulo de 21/01/2008 destacou em manchete: "Psicólogos tentam impedir pesquisa com homicidas". "Grupo apoiado por sociólogos e educadores ataca projeto universitário que pretende investigar base biológica da violência." Trata-se de de um projeto de pesquisa para mapear através de ressonância magnética determinadas zonas do cérebro de 50 adolescentes homicidas internados na FASE (ex FEBEM) do Rio Grande do Sul e de 50 adolescentes que não praticaram atos infracionais.
Além do mapeamento cerebral, a intenção dos cientistas é também investigar e analisar os aspectos sociais, psicológicos e genéticos dos dois grupos.
Na matéria da Folha, é divulgado que um grupo de psicólogos do CIESPI (Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância) dirigido pela Professora da PUC-RJ Irene Rizzini, que funciona em convênio com a PUC Rio, além de membros do Conselho Federal de Psicologia e de conselhos regionais, em um total de 101 pessoas, entre psicólogos, advogados, antropólogos e educadores, condenam a pesquisa afimando que ela nos remete às mais arcaicas e retrógradas práticas eugenistas do início do século.
As acusações são pesadas. Renato Zamora Flores, professor de genética da UFRGS e Jaderson da Costa, neurocientista da PUC-RGS, defendem o projeto, afirmando que o objetivo é avaliar, além dos já conhecidos fatores psicológicos e sociais, a possibilidade de influência dos aspectos neurobiológicos, neurológicos e genéticos no comportamento violento. Acham eles que a reação é de uma vertente acadêmica que rejeita a incorporação da neurobiologia no estudo do comportamento humano. E completam: "o foro é a academia, a discussão é acadêmia e não esse bate boca com abaixo assinado."
Na matéria da Folha de São Paulo é reproduzida uma nota de repúdio ao projeto com 68 participantes, cujos nomes podem ser lidos no site www.ciespi.org.br/portugues/noticia_006.htm. As notícias sobre a pesquisa em questão começaram a ser divulgadas na mídia em novembro de 2007. O assunto ganhou destaque agora em razão da citada nota de repúdio.
Apesar da enorme e bem reconhecida importância dos fatores sociais e psicológicos, deve-se aceitar outras causas para o comportamento violento de adolescentes. É comum, no entanto e por exemplo, reações contundentes contra aqueles que destacam a importância dos fatores psiquiátricos. Fala-se logo de "psiquiatrização do adolescente infrator". Parece-nos quer tentar impedir uma pesquisa acadêmica é um absurdo que só poderia se justificar através de argumentos muito sólidos. Não é o que se lê na referida nota de repúdio, que parece dominada pela emoção e não pela razão. O assunto deve ser discutido.
Não dá para ficar calado.

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