quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Dez alunos sofreram bullying em escola particular durante 1 ano

O bullying praticado por 3 alunos contra 10 outros de uma escola particular do Recife foi divulgado pelo Diário de Pernambuco, na semana passada. Durante 1 ano as vítimas foram agredidas física e verbalmente sendo que, nem os pais, nem a escola, nada fizeram. Agora, uma das mães resolveu procurar a imprensa.

A matéria tem repercutido inclusive no Jornal Hoje, da TV Globo, de 27/10. Em Recife, o tema está sendo discutido e outras mães passaram a denunciar situações semelhantes de bullying ocorridas com seus filhos.

Aproveitamos a oportunidade para reproduzir parte da matéria do Diário de Pernambuco e as dicas do Observatório da Infância para os pais prevenirem o bullying.


Na mesma escola, mais uma vítima de bullying

Violência. Mãe procurou o Diario para contar que o filho de 12 anos também sofreu o abuso no colégio religioso.

Marcionila Teixeira (marcionilateixeira.pe@diariosassociados.com.br)

O alvo principal eram as pernas. Um dia, os machucados foram tantos que as dores impediram o garoto de ir à escola. O corpo estava moído pelos espancamentos. Aos 12 anos e novato, o estudante da 6ª série passou quatro meses sendo agredido por quatro colegas de sala de aula. Sofria calado, com medo da reação da família e consequentemente dos agressores. Um dia, cansado da situação, contou tudo à avó materna. O pesadelo relatado é real e teria acontecido no mesmo colégio religioso do Recife denunciada por ocorrências de bullying na semana passada. O caso foi revelado com exclusividade ao Diario, ontem, pela mãe do aluno, que não prestou queixa à polícia. Até a próxima sexta-feira, o delegado Thiago Uchôa disse que espera concluir o inquérito que apura as denúncias feitas por outros oito pais de adolescentes que estudam na unidade de ensino. Ele adiantou que provavelmente vai optar por aplicar aos três jovens agressores a medida de prestação deserviço à comunidade, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Segundo a mãe do menino da 6ª série, o filho foi espancado e ficou até sem condições de ir à escola. Foto: Ricardo Fernandes/DP D.A Press
A situação do menino de 12 anos somente se normalizou no meio deste ano, quando o seu pai foi à escola para pedir providências à diretoria. Hoje, agressores e agredido convivem normalmente, mas por uma atitude decisiva da família, que exigiu uma ação do colégio. Os pais dos adolescentes foram chamados para conversar e as relações melhoraram. "Vou tirar meu filho da escola. Não fiz isso antes para ele não perder o ano. Assim como eu, outras mães vão fazer o mesmo", comentou a mãe da criança. Ela disse, ainda, que o grupo que batia no filho dela não é o mesmo citado pelos pais que procuraram a Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA).

As manchas da violência praticada contra o menino de 12 anos também ficaram no psicológico. "Por muito tempo ele ficou sem querer ir para a escola, mandava eu fechar as portas de casa, se isolou. Ficou agressivo, algo parecido com pânico. Sonhava em colocar meu filho naquela escola porquequeria unir a educação tradicional com a religiosa, mas me decepcionei", comentou a mãe do aluno.

Estudo - Estudiosa do assunto, a professora da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Virgínia Passos, disse que no Brasil o bullying tem se caracterizado por agressões ocorridas até mesmo dentro de sala de aula. "No exterior, esse tipo de situação acontece mais no pátio ou no caminho da escola", destacou. Virgínia está fazendo doutorado e vai investigar como as relações entre professor e aluno podem influenciar na prática do bullying. "O agressor não escolhe a vítima aleatoriamente. Será que o agressor não é aquele aluno criticado em sala, colocado para fora, desacreditado?", supôs a professora. O trabalho deverá ficar pronto dentro de dois anos. "Muitas vezes os pais e a escola tratam a situação como se fosse natural entre as crianças", acrescentou.

O delegado disse que já ouviu os três alunos acusados das agressões em dias diferentes: na quinta-feira, na sexta-feira e ontem. "Todos citaram que costumavam brincar e que todos participavam. Um deles, no entanto, destacou que não gostava das brincadeiras mais pesadas", disse Uchôa. Ainda segundo Uchôa, não aconteceram mais ameaças para uma das mães das vítimas como a registrada na semana passada. Por telefone, um jovem se identificou como amigo dos acusados e disse que daria uma surra em toda a família da vítima. "Acredito que isso foi mais uma brincadeira de mau gosto do grupo, mas nada foi confirmado até agora", acrescentou o delegado.

Observe seu filho
- Demonstrar falta de vontade de ir à escola
- Sentir-se mal perto da hora de sair de casa
- Pedir para trocar de escola
- Revelar medo de ir ou voltar da escola
- Pedir sempre para ser levado à escola
- Mudar frequentemente o trajeto entre a casa e a escola
- Apresentar baixo rendimento escolar
- Voltar da escola, repetidamente, com roupas ou livros rasgados
- Chegar muitas vezes em casa com machucados inexplicáveis
- Tornar-se uma pessoa fechada, arredia
- Parecer angustiado, ansioso, deprimido
- Apresentar manifestações de baixa autoestima
- Ter pesadelos frequentes, chegando a gritar "socorro" ou "me deixa" durante o sono
- Perder, repetidas vezes, seus pertences, seu dinheiro
- Pedir sempre mais dinheiro ou começar a tirar dinheiro da família
- Evitar falar sobre o que está acontecendo, ou dar desculpas pouco convincentes para tudo
- Tentar ou cometer suicídio

De que maneira os alunos se envolvem com o bullying?

Os autores são, comumente, indivíduos que têm pouca empatia. Frequentemente pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo. Seus pais exercem uma supervisão pobre sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos o comportamento agressivo ou explosivo. Os alvos são pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as consequências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda. São pessoas sem esperança quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo. A baixa autoestima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento. Alguns creem ser merecedores do que lhes é imposto. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças.Trocam de colégio com frequência, ou abandonam os estudos. Há jovens que, em depressão, acabam tentando ou cometendo o suicídio.

E o bullying envolve muita gente?

A pesquisa mais extensa sobre o assunto, realizada na Grã-Bretanha, registra que 37% dos alunos do primeiro grau e 10% do segundo grau admitem ter sofrido bullying pelo menos, uma vez por semana. Os meninos, com uma frequência muito maior, estão mais envolvidos com o bullying, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, embora com menor frequência, o bullying também ocorre e se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão ou difamação.

Quais são as consequências do bullying sobre o ambiente escolar?

Quando não há intervenções efetivas contra o bullying, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo.

Fonte: Observatório da Infância

Um filme retrata bem a situação de alguns alunos de escola interna, na Suécia, que sofrem bullying. O filme chama-se "Raízes do Mal" (Evil, 2003) e está disponível em vídeo.

Não dá para ficar calado.

2 comentários:

Lélio Braga Calhau disse...

Dr. Lauro, o que me preocupa é que muitos agressores agem com total sentimento de impunidade. Muitas vezes recebem ainda "cobertura" dos pais quando são flagrados e esses justificam as atitudes dos agressores como "brincadeiras". Depois quando o Ministério Público é acionado perguntam "Por que não me falaram que ele fazia isso antes?" Um grande abraço, lélio.

iluminada disse...

acho mtu legal esse blog, caro amigo..mtu legal sua intenção..já que você se importa tanto com as pessoas do mundo, olhe mais à sua volta e veja como Deus está presente em suas atitudes boas..um abraço.