sexta-feira, 4 de abril de 2008

Os pediatras e a dengue.

A respeito das "importações" de pediatras para o Estado do Rio de outros estados e até de Cuba(!) para combater a epidemia de dengue, a Assessoria de Comunicação da Sociedade Brasileira de Pediatria se manifestou oficialmente através do documento que reproduzimos a seguir.

Não dá para ficar calado.


Médicos em falta

A TENTATIVA do governo fluminense de importar pediatras de outros Estados para atender às crianças contaminadas pelo vírus da dengue dá bem a medida da desorganização da medicina pública no país. Faltam pediatras não porque o Rio de Janeiro não os produza, mas porque não consegue motivá-los a trabalhar na rede oficial. Concursos são realizados, mas as vagas não são preenchidas. Essa tem sido uma constante no país.

A principal causa para o fenômeno são os baixos salários oferecidos por Estados e municípios, que, de forma paradoxal, não implicam necessariamente economia de recursos públicos.
Em alguns Estados, para escapar aos baixos salários, médicos se organizaram em cooperativas que prestam serviços à rede oficial. Como em muitas dessas regiões quase todos os especialistas se ligaram às cooperativas, elas adquiriram enorme poder de negociação. Os salários dos médicos melhoraram, mas não a qualidade do serviço.

Ao menos 20% dos 350 mil médicos brasileiros já estão cooperativados. Em Estados como Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Espírito Santo, o poder público já não consegue prestar atendimento médico sem servir-se dessas entidades.

Em locais como São Paulo, onde as cooperativas não avançaram tanto, há problemas semelhantes. Como os médicos ganham mal, precisam acumular três ou quatro empregos para assegurar padrão de vida de classe média. Ocorre que, freqüentemente, o patrão é o mesmo: o poder público. Se o profissional recebesse mais, poderia dedicar-se a uma única unidade de saúde, tornando-se mais presente e propiciando ganhos de qualidade para o sistema.

Para reestruturar o setor é preciso, antes de mais nada, definir uma política salarial coerente para os profissionais de saúde. A proposta do governo federal de criar fundações estatais de direito privado para administrar os serviços é um bom começo. Daria liberdade aos gestores, permitindo-lhes pagar mais aos médicos e cobrar-lhes mais, além de demitir aqueles cujo desempenho é inadequado.

Assessoria de Comunicação da SBP

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