Há cerca de 40 dias atrás escrevemos aqui sobre a prática do infanticídio entre índios brasileiros. A imprensa não retomou o assunto até agora, quando a Folha de São Paulo na edição de 06/04 publicou a respeito matéria de uma página. O infanticídio seria tradição entre 20 das mais de 200 etnias do país, segundo a reportagem.
Crianças gêmeas são mortas porque são sinônimo de maldição. Uma criança deficiente porque tinha hipotioiridismo congênito, enfermidade facilmente diagnosticável e tratável só escapou de ser morta porque foi salva pelo irmão. Filhos de mães solteiras, crianças com deficiências mentais ou físicas ou doenças não identificadas pela tribo, são mortas, porque segundo a tradição, são amaldiçoadas e trazem infortúnios para a tribo.
Impressionante é o debate entre o respeitar o direito da criança de viver e o respeito à prática cultural dos índios. O missionário Saulo Freitas, secretário adjunto da CIMI (Comissão Indigenista Missionária), vê no debate conflito entre a ética universal e a moral de uma comunidade. "Ninguém é a favor do infanticídio. Agora, enquanto prática cultural e moralmente aceita, não pode ser combatida de maneira intervencionista".
O antropólogo Marcio Pereira Gomes, ex-presidente da FUNAI, afirma que "o índio só considera um ser como pessoa quando ele é recebido pela sociedade". Quando se pratica infanticídio, do ponto de vista cultural, e não biológico, ainda não se está considerando um ser como completo. A antropologia analisa desse modo. Sob essa lógica cultural, não é desumanidade (o infanticídio)".Veja-se o absurdo da situação. Enquanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) discute-se a liberação de pesquisas com embriões de cinco dias, com alegações de que já se iniciou a vida, índios brasileiros tiram a vida de seus filhos e só consideram um ser como pessoa quando é recebido pela sociedade.
Não se sabe quantas crianças são mortas oficialmente nas aldeias. A subnotificação é um fato. Talvez cinco a dez são mortas ao ano por infanticídio.
Infanticídio é inaceitável. Não se pode respeitar uma cultura que autoriza ou até determina a morte de crianças, por total ignorância. O mínimo que deveria ocorrer é o Estado retirar essas crianças condenadas a morrer em nome de práticas obscurantistas e entregá-las para a adoção.Não dá para ficar calado.
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